O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é uma das aves aquáticas mais raras e ameaças do mundo. É considerada criticamente em perigo de extinção em nível global e estima-se que existam menos de 250 aves na natureza. A espécie ocorria originalmente no Paraguai, Argentina e Brasil, porém atualmente só pode ser encontrada no Brasil. No território brasileiro, o pato-mergulhão só é encontrado nas regiões da Serra da Canastra (MG), Patrocínio (MG), Chapada dos Veadeiros (GO) e no Jalapão (TO).
Os mergulhões vivem em rios de águas limpas e transparentes, com corredeiras e vegetação nas margens, locais que geralmente são extremamente afetados pela degradação das águas. Por este motivo, os patos-mergulhões são considerados bioindicadores: sua presença indica que aquele ecossistema está em equilíbrio.
Buscando uma maneira de proteger esta ave tão ameaçada, em 2006 o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) criou o Plano de Ação Nacional para Conservação do Pato-mergulhão (PAN pato-mergulhão), que tem o objetivo de assegurar permanentemente a manutenção das populações e da distribuição geográfica do pato-mergulhão, a médio e longo prazo, promovendo o aumento populacional. O PAN ganhou ainda mais força depois de 2012, com a criação e coordenação do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Em 2011, a equipe técnica do plano de ação percebeu a importância da manutenção de uma população pato-mergulhão sob cuidados humano e, dessa maneira, iniciou-se o Projeto de Reprodução ex situ do Pato-mergulhão.
O Zooparque Itatiba integrou o Projeto de Repordução ex situ da espécie em 2014, quando recebeu os primeiros ovos de coleta científica para serem incubado sob seus cuidados. Desde então, a instituição se tornou a sede do programa. Ao longo dos 10 anos de projeto, o zoológico recebeu ovos provenientes de diversas coletas científicas realizadas no Jalapão (TO), na região de Patrocínio (MG), na Serra da Canastra (MG) e na Chapada dos Veadeiros (GO). E, graças a estes ovos, foi possível estabelecer uma população de pato-mergulhões sob cuidados humanos e aumentar o número da mesma através das reproduções ex situ.
Em agosto de 2017, o Zooparque Itatiba registrou o primeiro nascimento sob cuidados humanos. Os ovos foram incubados artificialmente e os filhotes, criados manualmente. No ano seguinte, em julho de 2018, foi o primeiro ano em que os filhotes nasceram no recinto junto com seus pais, que foram responsáveis pela incubação dos ovos e cuidados com os pequenos. Já no ano de 2019, o zoológico registrou o nascimento de mais 5 filhotes, aumentando ainda mais a população sob cuidados humanos.
Já o ano de 2020 foi um marco no sucesso reprodutivo da espécie sob cuidados humanos. Neste ano, o Zooparque Itatiba registrou o nascimento de 15 filhotes, um número sem precedentes. Além disso, dois filhotes nasceram de ovos coletados na Serra da Canastra em junho do mesmo ano, o que é muito importante para o projeto, pois integrar novas linhagens é essencial para a viabilidade genética da população sob cuidados humanos.
Estes resultados demonstram como o projeto de reprodução ex situ está no caminho certo para garantir a estabilidade da população sob cuidados humanos e a futura soltura no habitat natural.
O Zooparque tem hoje mais de 25 patos-mergulhões adultos e 15 jovens, mostrando a importância da reprodução de espécies ameaçadas sob cuidados humanos.
O foco principal de todo esse projeto é o aumento da população de mergulhões, possibilitando, futuramente, a reintrodução das gerações nascidas no zoológico em seu habitat natural.
Para Robert Kooij, diretor do Zooparque, o nascimento de mais uma geração de patos-mergulhões é apenas a primeira etapa desse grande projeto. “Um projeto dessa relevância mostra como os zoológicos são importantes na conservação da fauna brasileira. Através da reprodução dessas espécies ameaçadas é possível ter um aumento em sua população e, futuramente, com parcerias, possibilitar a reintrodução dessas gerações nascidas sob cuidados humanos”, afirmou
Graças aos nossos patrocinadores foi possível construir viveiros individuais para esta espécie. Cada um dos recintos conta com uma área de até 100 m2 para cada casal, lagoa artificial de água corrente, vegetação, ninho em tronco de madeira e cavidades naturais.
Os patos são monitorados por câmeras 24 horas por dia, tendo o mínimo de contato possível com os humanos. Este distanciamento é proposital e visa preservar o comportamento natural da espécie, garantindo maior chance de uma reintrodução futura em habitat natural. A alimentação balanceada, consiste em alevinos vivos colocados nas lagoas, para ajudar a estimular o comportamento de pesca, e uma ração especialmente desenvolvida para a espécie, criada pela empresa Reino das Aves. A empresa é um importante patrocinador do projeto e fornece toda a ração utilizada pelo Zooparque Itatiba como patrocínio e apoio ao programa de conservação.
Em janeiro de 2021, o zoológico realizou a ampliação do Setor de Reprodução ex situ através da construção de seis novos viveiros. Os novos recintos são essenciais para abrigar os filhotes nascidos em 2020 e foram construídos com ajuda do patrocínio da OZO (Austria Zoo Organization). Já o patrocínio do Zoológico de Praga, possibilitou a compra de um novo gerador de energia elétrica, essencial para manter o sistema de abastecimento de água no setor de reprodução ex situ.
Também em março de 2021, foi construído um novo poço de captação de água para abastecimento dos lagos artificiais utilizados pelos patos. A construção deste poço só foi possível graças a ajuda de nossos patrocinadores, em especial a IWWA (International Wild Waterfowl Association), Steppe Birds Breeding Center e Aviornis. Além dos recintos, o zoológico conta com Setor de Maternidade, Sala de Incubação e equipe especializada para cuidar dos ovos, incubação artificial e dos filhotes criados manualmente.
Entre as próximas etapas do projeto de reprodução sob cuidados humanos, estão a ampliação da variabilidade genética da população, através de coletas de ovos em novas áreas, e o estabelecimento de novos procedimentos para manutenção e manejo desta espécie com o mínimo de interação humana possível.
Os estudos genéticos da população sob cuidados humanos ainda estão em fase inicial, mas serão mais difundidos nos próximos anos através de parcerias com universidades filiadas ao projeto. Estes estudos são essenciais para orientar os pareamentos das aves e garantir a variabilidade genética desta população.
O Zooparque Itatiba também está trabalhando em parceria com o ICMBio, MZUSP e outras instituição integrantes do PAN Pato-mergulhão na procura de uma área de soltura para os patos-mergulhões no estado de São Paulo. Ainda existem muitas considerações a serem feitas sobre a escolha do local, mas a soltura é parte fundamental do programa e o Zooparque Itatiba já começou a trabalhar visando cumprir esta próxima etapa do projeto.